12.12.12

Um bolo, a oportunidade, o pretexto e o motivo.

Primeiro veio a oportunidade. Mentira, primeiro veio, há um ano atrás, um email envergonhado, que por entre as poucas palavras que continha, lia-se "Eu costumo dizer que há duas coisas na vida, as que nos cortam a respiração e as que nos deixam respirar melhor. E este teu tumblr calha direitinho na segunda". Rematado com um keep shinning e um simples sara (assim, em letra minúscula) assinado por baixo. E eu sem palavras na altura e agora quando o voltei a reler. Cinco linhas de texto que vieram na melhor hora que ela poderia imaginar. Tanto que provavelmente foi por elas, por ela, a Sara, que não parei de escrever aqui em tempos bastante conturbados.
Depois, oito meses depois, o primeiro encontro, que soube a pouco, mas de quem pouco se ralou com isso, por saber, com a maior das certezas, que o tempo é nosso. Em dois meses seguiu-se um aniversário, por mim presenteado por uns apressados pastéis de grão e coentros no forno, bons, mas não o suficiente para estarem à altura da ocasião (e da pessoa); um jantar tardio e a tarde de ontem (a verdade é que foi há três dias atrás, o texto foi escrito no dia seguinte). Sem nada para celebrar ou ocasião especial para festejar. Apenas para estar. Estarmos. E falar, ouvir, rir, descobrir (mas é que é mesmo assim!) e comer. Temos portanto a oportunidade para este bolo.


Apercebi-me já que o meu coração bate mais por aqueles bolos que fazem lembrar o Santo Graal do Indiana Jones e a Grande Cruzada: tosco por fora mas de ouro por dentro. Aquela fotografia e todas as substâncias fazer crescer água na boca ficaram-me na cabeça desde o primeiro momento que os vi e li - coisa rara, sofro de síndrome de leitura diagonal virtual (i.e. no ecrã) e de memória curta. E eu ali, desejosa de o fazer mas sem a oportunidade para. Quase todos os bolos que faço são para aproveitar/rentabilizar algum alimento que tenho em abundância ou para ocasiões e celebrações especiais e este não encaixa em nenhuma das categorias anteriores, pertencendo antes à dos bolos que são podres de bons e essa é razão suficiente para os fazer e à chamada bolo, apetece-me comer-te agora, e aqui apresento o motivo. Não fosse a minha avó comprar comida para vinte cada vez que há almoço em casa dela e não teríamos uma série de bananas impingidas lá em casa para comer  e a ficar demasiado maduras até para mim e, por conseguinte, o pretexto.

O bolo é fantástico. É daqueles bolos que sabemos que vai ser bom só de sentirmos o cheiro das coisas quando ainda o estamos a fazer.
Em termos nutricionais, em vez de ser uma bomba calórica, é sim uma bomba de coisas boas - banana, chocolate negro, azeite em vez de manteiga, farinha integral, o limão que torna (quase) sempre qualquer coisa boa ainda melhor e claro, algum açúcar integral maravilhoso à mistura. Quando sai do forno cheira a papa de bebé e quando entra na boca tem-se tudo misturado mas ao mesmo tempo cada elemento distinguido. E quer-se mais.



Uma folha de ginkgo que apanhei no jardim. As microscópicas gotas de orvalho que reflectiam uma luz preciosa do sol das 8h da manhã. Preciosos, ela e o bolo.

Bolo de banana e chocolate com glacé de açúcar integral e limão
ligeiramente adaptado de 101 Cookbooks

As pequenas alterações que fiz são rela Este é um bolo que na verdade se serve idealmente frio, pela principal razão que a cobertura quando solidifica formando uma espécie de fina carapaça, por alguma razão, fica ainda mais maravilhosa.

125g de farinha branca de trigo
140g de farinha de trigo integral
75g de açúcar integral (rapadura)
50g de açúcar amarelo
3/4 c.chá de bicarbonato de sódio
1/2 c.chá de sal grosso
115g de chocolate negro 70% cacau, picado grosseiramente
80ml de azeite
2 ovos grandes, ligeiramente batidos
340g de bananas muito maduras, esmagadas (cerca de 3 grandes)
60ml de iogurte natural (equivale a um copo regular de 125g)
1 1/2 c.chá de raspa de limão fresca
1 c.chá de extracto de baunilha

55g de açúcar integral (rapadura)
35g de açúcar em pó
4 c.chá de sumo de limão fresco

Pré-aquecer o forno a 180ºC e colocar a prateleira no centro. Engordurar e enfarinhar uma forma rectangular de pão de 23x13, ou de capacidade equivalente.
Numa tigela larga, misturar as farinhas, os açúcares, o bicarbonato e o sal.
Adicionar o chocolate e misturar (se for um tupperware, tapem com a tampa e finjam que estão a tocar maracas!)
Numa tigela média, envolver o azeite com os ovos, as bananas, o iogurte, a raspa de limão e o extracto de baunilha. Verter esta mistura na dos ingredientes secos e envolver com uma espátula apenas até ficar tudo bem combinado, sem que restem vestígios de farinha.
Passar a mistura para a forma preparada e levar ao forno 50-60 minutos, dependendo da forma utilizada (eu utilizei uma de 20x12 e precisei de 60 e tal minutos). O ideal é que o bolo adquira uma cor intensa mas que o seu interior esteja no limiar entre o mal cozido e o demasiado seco. Deve ficar com alguma humidade no centro e para garantir isso o melhor é espetar com um palito no centro e ir verificando. Assim que parecer quase quase pronto, desligar o forno e retirá-lo que ele eventualmente acabará de cozer o que falta com o próprio calor.
Transferir a forma para uma grelha para arrefecer durante 10 minutos, e retirá-lo da forma de seguida para arrefecer completamente.

Enquanto o bolo coze, preparar a cobertura numa tigela, batendo os açúcares com o sumo de limão até ficar cremoso. Cobrir o bolo quando tiver arrefecido completamente, espalhando a cobertura com uma espátula.


serve 10


a ouvir: Orelha Negra em repeat.

1 comentário:

  1. que tu eras mesmo bonita eu já sabia antes de te conhecer, mas agora tenho o prazer de o poder saborear. mantenho tudo o que escrevi na altura (e mais). uma chuva de estrelas para ti :) <3

    ResponderEliminar